Não deixe de lado: Side Deck

15/03/2017 Hugo Fukuda

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      Metagame estudado, deck fechado, inscrição feita. Tudo preparado para o seu próximo torneio, certo? Errado! Hoje venho falar daquilo que, minha opinião, é a parte mais importante e difícil na preparação para um torneio, porque engloba tudo que nós discutimos nos últimos dias, que é a montagem do Side Deck! Então, sem mais delongas, vamos ao que interessa!

Side Deck: muito mais do que cartas sobressalentes

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      Vejo isso acontecendo bastante: a pessoa escolhe o deck que quer jogar, gasta um bom dinheiro nele, investe um bom tempo aprendendo como usa-lo da melhor forma, testa o que realmente vai no Extra Deck jogando com os amigos, até que chega na hora de escrever o decklist e o Side Deck simplesmente se torna 15 cartas que não couberam no Main, ou então cartas que a pessoa gosta de usar. Chegamos no torneio, primeira rodada e a pessoa perde porque ele simplesmente não tinha uma saída para a jogada que ele tomou ou jogou contra um deck que ele não tinha como ganhar.

      O nome Side Deck, ou Deck Auxiliar, já nos diz qual é o real papel dele: servir como um conjunto de cartas que vem a nos ajudar naquilo que o Main Deck não consegue lidar sozinho.

      Apesar de ser cada vez mais comum decks com mais de 40 cartas, até mesmo sem o uso de That Grass Looks Greener, é praticamente impossível encaixar dentro do Main formas de lidar com todos os decks do formato, independente se temos 3 ou 30 decks viáveis. Na verdade, além de ser quase impossível, na maioria das vezes é ruim: o que acontece se você encaixa no seu Main formas de jogar contra o Infernoid e o Zoodiac, mas quando você enfrenta o Zoodiac você comprar todas as 3 Imperial Iron Wall do seu deck, ou então contra o Infernoid comprar 2 Dimensional Barrier para enfrentar a Infernoid Deviaty do seu oponente?

      Esse é o papel de um bom Side Deck: facilitar as diversas matchups que você pode ter ao longo de um torneio. Em um evento que chamamos de Tier 2, que são os diversos regionais que acontecem, a chance de você enfrentar somente uma ou duas estratégias diferentes é bem baixa, e no Brasil a chance de você enfrentar um deck menos popular é ainda maior! E isso torna o trabalho em cima do seu Side ainda mais importante.

Montando um bom Side Deck

      Como eu disse no começo do artigo, o Side Deck é difícil de decidir por englobar os temas dos artigos anteriores, já que você precisa pensar nos decks que são populares no seu metagame, definir quais matchups são favoráveis para você e quais não são, qual a chance de você encontrar algum rogue deck e se ele é de fato um problema, e entender ao menos o básico de todos os decks que você pensou durante esse processo, porque não dá para escolher as 15 cartas do Side sem saber como você vai parar o seu oponente se você nem ao menos sabe o que ele vai fazer com o deck dele.

      Falando em 15 cartas, lembrem-se que o espaço é limitado, e decidir o que fica e o que sai em um side é muito mais difícil do que se fechar um Extra Deck. Eu costumo seguir 3 pilares na construção de qualquer Side Deck, sendo o primeiro pilar a ideia de que nenhuma matchup mereça mais do que 6 espaços do meu Side, e já explico o porquê.

      Pensem no seu deck. Com certeza existe uma combinação de cartas que você quer sempre ter a mão para fazer a jogada ideal contra seu oponente, e o seu Main Deck foi montado de forma que as chances dessas mãos boas acontecerem sejam o máximo possível (ou pelo menos espero que vocês pensem assim). Querendo ou não, na maioria das vezes as cartas de Side Deck, apesar de serem boas contra algumas estratégias específicas, são externas a ideia principal do seu deck, o que afeta na consistência. Todo mundo tem um amigo que já saiu da rodada reclamando que perdeu porque só veio o Side na mão, e geralmente isso acontece porque ele usou cartas demais tentando impedir seu oponente, se esquecendo de que de nada adianta seu oponente não jogar se você também não jogar cards.

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      Geralmente tirar 6 cartas significa tirar dois trios ou três duplas de cartas do meu main deck, e um main deck equilibrado não costuma ter mais de 6 cartas que são ruins contra algum determinado deck. Se seu deck tem mais de 6 cartas mortas em alguma matchup, existem apenas duas opções: a primeira é você estar enfrentando um rogue deck, e a ideia principal do rogue deck é fazer exatamente isso, tornar várias cartas do seu main mortas contra ele; a segunda é um deckbuilding ruim, seja porque você não fez a análise do metagame correta ou então você não tinha a carta correta e teve que encontrar uma segunda opção que não foi feliz.

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      O meus segundo pilar na construção do Side, que também influencia na forma de como você vai montar o seu deck para o game 2, é levar em consideração quem vai ter o primeiro turno. Por exemplo, cartas de armadilha costumam ser bem melhores quando você é o primeiro a jogar, já que elas precisam de um turno para poder ser ativada, enquanto que cartas mágicas e hand traps costumam ser bem melhores quando você é segundo, as primeiras porque não precisam do turno de preparação das armadilhas e as segundas porque podem ser utilizadas no turno do oponente a qualquer momento. Por isso seu Side precisa ser equilibrado em relação a cartas que você vai usar quando é primeiro e quando você é segundo, da mesma forma que o seu Main Deck também precisa ser.

      Obviamente, existem cartas que costumam ser exceção a esse pilar. Um exemplo nesse formato é a Dimensional Barrier; apesar dela ser muito boa parando o primeiro turno do oponente, usa-la mesmo sendo segundo muitas vezes garante que você consiga ter um segundo turno, te dando mais tempo para lidar com as cartas do seu oponente. Algumas floodgates (cartas que impedem os jogadores jogarem de alguma forma) também costumam funcionar de maneira semelhante; mesmo sendo segundo, uma Vanity’s Emptiness pode ser o suficiente para selar a vitória para o seu lado, mesmo quando você é segundo.

      O terceiro pilar é a de que uma carta do Side Deck precisa ser versátil. Volto a repetir que o espaço do Side é mais apertado do que o do Extra Deck, e isso te obriga a cobrir a maior quantidade de matchups possível com 15 cartas, e obviamente não será colocando aquela tech contra o deck de Infernoid que você vai conseguir isso. Esse princípio é bem óbvio: quanto mais matchups uma carta cobrir, menores são as chances de você se ver despreparado a enfrentar algum deck.

Ainda sobre o último pilar existe mais um ponto de atenção: tenha o hábito de incluir cartas genéricas no seu Side. O que eu quero dizer com isso? Cartas como Raigeki, Dark Hole, Twin Twisters e Mystical Space Typhoon nem sempre conseguem conquistar o apertado espaço em nosso Main Deck, mas não podemos negar que são bem poucas as matchups que estas cartas são de fato ruins; elas, inclusive, costumam ser outs para o Side Deck do seu oponente. Se o que nós buscamos é um Side versátil, além de ele lidar com o Main Deck do seu oponente, ele precisa saber lidar com o Side Deck do seu oponente também; cartas genéricas desse tipo também costumam ser muito boas contra rogue decks, te dando uma oportunidade de ter alguma coisa para colocar contra esse tipo de estratégias e, principalmente, tirar aquelas cartas que não funcionam contra eles.

Aplicando a teoria: ideias para o formato
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      Bom, aqui temos os 64 decks que toparam nos últimos dois YCS, em Seattle e Atlanta. De todos os decks listados, apenas 6 não continham a engine de Zoodiac nele: 1 dos Infernoid de 60 cartas e o Burning Abyss em Seattle, e os 3 Paleozoic Frogs e o Invoked Windwitch em Atlanta. Isso, de cara, já mostra que a engine mais popular será o Zoodiac, então cartas como Dark Hole, Needle Ceiling, Book of Eclispe e os Kaijus como um todo são boas opções contra eles.

Note que eu falei engine, e não deck. E essa diferença, apesar de sutil, é bastante relevante para montar um Side Deck.

DanteTraveleroftheBurningAbyss-DUEA-EN-ScR-1E      Os Zoodiacs conseguem facilmente se encaixar em diversas estratégias, e isso pode ser notado na própria análise dos dois tops. Além dos Zoodiacs puros, Zoodiacs Kaiju e Zoodiacs Artifacts,  que considero todos como sendo as variantes pura do Zoodiac, tivemos a engine dentro das estratégias de Infernoid, Lightsworn, Paleozoic, Invoked, Kozmo, Metalfoes e Shabyss (Shaddoll Burning Abyss). Isso nos leva para uma análise interessante: apesar do fato dos Zoodiacs estar presentes em todos os decks, as estratégias são bem diferentes entre si. Por exemplo, uma Dark Hole, que é muito bom contra os decks puros, passa a ser uma opção ruim quando os Zoodiacs estão juntos das naves como Kozmo Forerunner ou então com um Dante, Traveler of the Burning Abyss; e o caminho inverso também ocorre, pois os decks de Infernoid com Zoodiacs lidam muito melhor com floodgates comumente usadas contra eles, como Imperial Iron Wall, graças ao Zoodiac Drident. Essas interações torna ainda mais difícil a decisão do side, e por isso é importante identificar quais desses decks menos populares pode ser um competidor relevante no torneio que você irá participar.

      Falando em Infernoids, eles foram as estratégias com maior sucesso depois dos Zoodiacs. Por causa disso seria uma decisão pouco inteligente caso você não se prepare para enfrentar um deles nas várias rodadas do seu torneio. Decks de That Grass Looks Greener em geral costumam ser grandes estratégias rogue, pois a vantagem gerada pelas 20 cartas ou mais milladas costumam ser o suficiente para passar por cima de 4 cartas setadas do oponente.

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      O último deck que eu gostaria de destacar são os Invoked. Com uma única participação em YCS, em Atlanta, os amigos do Aleister conseguiram conquistar três vagas no top, inclusive o jogador que foi para o top invicto com os Invoked associados às Windwitchs. Essa é uma estratégia que tem uma matchup muito boa contra os Zoodiacs, explicando como ele conseguiu passar as 10 rodadas do torneio em Atlanta invicto.

      Identificado as 4 principais forças do metagame atual (Zoodiacs, Infernoids, Paleozoics e Invokeds), podemos começar a pensar em opções para o Side Deck.

      Zoodiacs, Paleozoics e Invokeds costumam usar uma poderosa lista de armadilhas, cheias de Solemn Strike, Dimensional Barrier e Artifact Sanctum. Por conta disso é muito importante contar com cartas de destruição de magias e armadilhas, principalmente Twin Twister por lidar com mais de uma ao mesmo tempo. De quebra, o uso desse tipo de carta de ajuda a enfrentar os diversos anti-metas, como o deck de Barrier Stun.

ArtifactLancea-MP15-EN-C-1E      Infernoids e Invokeds também tem uma característica em comum: as duas estratégias dependem de banir cartas para realizar suas jogadas. Logo, cartas como Imperial Iron Wall Artifact Lancea passam a ser boas opções no seu side por lidarem com mais de uma estratégia. Graças ao fato do Zoodiac Drident dar alvo, os Kozmos ainda são uma boa estratégia para jogadores budget, e ambas as cartas ajudam a você lidar contra o deck. E o último check aqui vai por conta dos decks de ABC-Dragon Buster, que ainda são populares por aqui; sem poder banir, sem ABC-Dragon para lidar.

      Kaijus passam a ser uma ótima opção, pois ajudam a lidar com os campos que os decks de Zoodiac e de Invoked Windwitch costumam fazer em seu primeiro turno. E por mais absurdo que pareça, nunca foi tão importante reparar no atributo do seu Kaiju quanto hoje; a Invocation realiza fusões de Invokeds utilizando monstros de qualquer cemitério como material, e os atributos menos úteis para eles são Água, Fogo e Trevas, que tem seus representantes no Gameciel, Dogoran Radian, ao mesmo tempo em que os Kaijus de Luz Vento, como o Jizukiru e o Gadarla, as melhores opções para quem usar os Invokeds. Infernoids não costumam gostar Jizukiru e do Thunder King por conta da restrição de invocação baseada no nível no campo, que não pode exceder 8 (Jizukiru é 10 e o Thunder King 9).

      Cartas como Starlight Road My Body as a Shield, e até opções mais obscuras como The Huge Revolution is Over, estão se tornando comuns para lidar com destruição de cartas em massa como Raigeki Torrential Tribute. Isso torna cada vez mais importante cartas que lidam sem destruir, como Book of EclipseStorming Mirror Force Compulsory Evacuation Device. Essas cartas, inclusive, costumam ser genéricas, podendo ajudar em algumas matchups com alguns rogue decks como Monarcas, por exemplo.

PSYFramegearGamma-HSRD-EN-UR-1E      Para fechar considere as diversas hand traps do jogo atual. Além dos clássicos Maxx “C” Ghost Ogre & Winter Rabbit, opções como D.D. Crow, Flying “C”Psy-Framegear Gamma também são viáveis, justamente por ajudar a lidar com mais de uma estratégia ao mesmo tempo. D.D. Crow pode ser excepcionalmente forte contra Zoodiacs, Invokeds e Infernoids, mas ajuda também contra D/D/Ds; Flying “C” pode ser uma opção mais barata para combater os Zoodiacs, além de ajudar a lidar com o atual Highlander do jogo, os Burning Abyss; e praticamente todos os decks contam com um efeito de monstro a ser negado com o Psy-Framegear Gamma.

Resumo da ópera

      Espero que todos aqui tenham aprendido como montar um Side Deck equilibrado, sem contar as dicas que mostrei para serem usados no formato atual. Como viram, o campeão de um torneio pode ser decidido antes mesmo da primeira rodada, no momento em que os jogadores decidem entregar a decklist, então passem a dedicar mais tempo e recursos na montagem do seu Side, já que muitas vezes você troca de Main Deck mas o Side Deck permanece bem parecido.

      Lembrem-se que nesta semana teremos o Regional da temporada do Raging Tempest da loja, no dia 25 de março teremos o mensal e no dia 9 de abril o primeiro Duelshop Championship do ano! Preparem-se para jogar e garantir logo cedo a sua vaga tanto para o Nacional 2017 quanto para a edição final do DSC no final do ano.

      Além disso, gostaria de agradecer a todos pelos feedbacks sobre os conteúdos que estamos produzindo, então continuem falando com a gente, que nós iremos responder sempre que possível!

Nos vemos no próximo torneio!

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